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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

DARCY, O SEDUTOR

Respirava-se no pilotis da PUC uma atmosfera diferente. Um burburinho, uma inquietude talvez. Num dos prédios havia um reitor. Até aí, nada demais. Toda universidade tem um reitor. Naquele dia havia o reitor, o maior deles que pisara naquele campi. Se cartazes tivessem sentimento, estariam orgulhosos em estampar o nome de Darcy Ribeiro que, naquela tarde cinzenta de 1988, lançaria a autobiografia 'Migo'. Para os que não eram puquianos, o cenário era um tanto labiríntico, com alas batizadas com nome de cardeais.


Mas como tem boca etcetera e tal, chegamos ao reitor, o histórico reitor-fundador da Universidade de Brasília. Cercado de jovens, Darcy gesticulava, abraçava, beijava, discursava, usava os dedos como pente para alinhar os cabelos. Não adiantava muito. Continuavam revoltosos como suas sobrancelhas. Depois de meia hora de espera, estávamos, a namorada e eu, diante da fera. Depois dos rápidos cumprimentos, eu disse a Darcy que um dos livros era para a mãe da namorada. Perguntei se ele se incomodaria em autografá-lo. "Problema algum. Principalmente porque a mãe deve ser bonita como a sua namorada", respondeu, todo sedutor. Eu ri. E recebi o melhor dos abraços.


Paulo Marcelo Sampaio
Jornalista, botafoguense e vendedor de ovos*

* pede gentilmente para não procurar pelo em ovos ...

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